Não se pode, à partida, afastar a possibilidade de ainda ocorrerem erupções em qualquer ilha do arquipélago (já que não se sabe se a actividade vulcânica das ilhas está ou não em repouso prolongado). Contudo, por razões óbvias, só é considerada activa, do ponto vista vulcânico, a Ilha do Fogo, onde nos últimos 500 anos foram observadas pelo menos 29 erupções

Assim sendo, é fundamental que se estabeleça observações, ou redes de monitorização, de modo a permitir identificar períodos pré-eruptivos para que medidas de proteção civil possam ser adotadas tempestivamente. 

Atualmente é consensual que a geofísica fornece métodos muito eficazes para o efeito e particularmente a sismologia.

É por isso que nos últimos 10 anos o INMG tem feito investimentos significativos nesta matéria e também no acompanhamento da deformação do solo (na Ilha do Fogo). E deste modo já estão em funcionamento 18 estações sismométricas, com a seguinte distribuição: quatro em Santo Antão; uma em São Vicente, Sal e Santiago, seis no Fogo (sete em Junho de 2019) e cinco na Brava (seis em Junho de 2018).

Ainda está prevista a instalação de uma estação em São Nicolau (em Setembro de 2018), na Boa Vista e Maio (em Março de 2019). Para complementar a monitorização do Vulcão do Fogo estão, ainda, instaladas três estações inclinométricas (que permitem acompanhar a deformação do solo produzidas por intrusões magmáticas). Está ainda no plano de actividades do instituto, a instalação de uma rede de receptores GPS em várias ilhas, e espera-se que permitirá “detetar” as deformações do solo mais subtis provocadas por eventuais intrusões magmáticas.    

História geológica de Cabo Verde

É sabido que todas as ilhas de Cabo Verde são de origem vulcânica. Há pelo menos três anomalias na região de Cabo Verde - de batimetria, do geoíde e gravimétricas - que sugerem que o vulcanismo resulta de um hotspot, ou seja nesta região existem condições que favorecem a formação de magma. Convém, contudo, sublinhar que as causas da existência do hotspot ainda não consensuais. Resultados recentes da tomografia sísmica sugerem que a existência do hotspot se deve a uma pluma com uma raiz muito profunda no manto terrestre e outros o contrário, ou seja a raiz é superficial. Terá sido o hotspot (chamado hotspot de Cabo Verde) o responsável pela formação e actividade vulcânica do arquipélago. Se noutras partes do mundo onde existem igualmente vulcanismo produzidos por hotspot, as ilhas tendem a ter “curta duração”, evidentemente em termos geológicos, como as mais a Oeste do arquipélago do Havai, em Cabo Verde o mesmo não acontece.

Por outro lado, nessas partes, as ilhas (ou cadeias de vulcões) tendem a se alinhar de acordo com o movimento das placas sobre as quais elas se desenvolveram, e em Cabo Verde as ilhas se distribuem em forma de ferradura com a abertura para Oeste.

Actualmente, estas duas características peculiares são explicadas pelo facto da velocidade de rotação da placa africana sobre a qual as ilhas se assentam é muito pequena nesta região.   

Em Cabo Verde, os processos incipientes do vulcanismo, ou seja o início da actividade plutónica, terão iniciado aproximadamente há 19 milhões de anos. Mas, a actividade eruptiva “acima do mar” só começou há aproximadamente 16 milhões de anos nas Ilhas do Sal e do Maio (provavelmente também na Boa Vista).

 No Sal a actividade eruptiva prolongou-se até cerca de 1 milhão atrás, mas tendo sofrido interrupções de alguns milhões de anos, sendo as idades dos principais períodos de actividade 16, 11,2, 5,4 e 1,1 milhões de anos, respectivamente. No Maio a actividade A actividade situou-se entre 12 e 7 milhões de anos. As rochas mais antigas de Santo Antão têm cerca de 7,5 milhões de anos e, as mais recentes 100 mil anos. Contudo, a actividade vulcânica não foi contínua. Com efeito sofreu uma interrupção de cerca de 4,6 milões de anos.  A actividade eruptiva de São Nicolau, que se iniciou há cerca de 6,2 milhões de anos, também não foi contínua, tendo se distribuído em quatro etapas principais (de 6,2 a 5,7; de 4,7 a 2,7; de 1,7 a 1 milhões de anos respectivamente, e de 100 a 50 mil anos).  A Ilha Brava é a mais nova, o início da actividade vulcânica parece ter cerca 2,1 milhões de anos e as rochas mais recentes têm aproximadamente mil anos.

 Outra característica proeminente de algumas ilhas é a elevação quase permanente. Este fenómeno é sobretudo observado em São Nicolau, Santiago e Brava.                  

 Essas datações permitem por em evidência que:

 a)     ilhas com diferença de idades muito pronunciada e muito distantes uma das outras estiveram em erupção simultaneamente, como é o caso da Ilha de Santo Antão e do Maio;

b)    em muitas das ilhas a actividade eruptiva tem sido intermitente com logo períodos de repouso, com é o caso das Ilhas do Sal, São Nicolau e Santo Antão.

 

 Definição de Geofísica

A geofísica é o ramo da física aplicada que se dedica ao estudo da Terra. Ou seja, é a aplicação dos métodos da física para se inferir as propriedades do nosso planeta. No seu sentido lato, inclui: a aeronomia, a meteorologia, a climatologia, a oceanografia e criologia e a geofísica interna. Mas, é esta última a que nos interessa aqui.

 A geofísica interna é em si uma ciência muito vasta e engloba várias disciplinas, como por exemplo:

 -    A gravimetria, que se dedica à medida do campo de gravidade terrestre;

-    A geodesia, grosso modo, dedica-se ao estudo da forma da terra;

-    A geodinâmica, como o próprio nome indica, estuda os movimentos da do nosso planeta, incluíndo o seu movimento de rotação;

-    O geomagnetismo que aborda a questão do campo magnético terrestre;

-    A sismologia, que se ocupa dos fenómenos ondulatórios que ocorrem no interior da terra. Através do registo das ondas sísmicas que se propagam no interior da Terra, infere sobre as propriedades do meio – consequentemente das propriedades do interior da terra- e também dos mecanismo de fonte, quer dizer porque e como as ondas foram geradas;

-    etc.

 É evidente que cada uma dessas disciplinas, por terem os seus campos e objectivos próprios fazem uso de instrumentação e métodos específicos. Convém realçar, contudo, com frequência utilizam métodos comuns, sobretudo métodos matemáticos (como por exemplo os técnicas de inversão) e também os objetivos são por vezes os mesmos (por exemplo, em certas circunstâncias a detecção de estagnação de magma no interior da crosta terrestre pode ser efectuada com a ajuda da tomografia sísmica e da gravimetria.        

 É importante sublinhar que além do interesse científico em si da geofísica interna, ela tem várias aplicações práticas que são cruciais para a indústria e para a segurança das pessoas e do edificado.

Para indústria, e, por conseguinte, para economia, pode citar-se vários exemplos: a primeira etapa para prospecção de petróleo - ou de outras minas -, passa por um levantamento gravimétrico e estudo da reflexão sísmica; a colocação de satélites de comunicação em órbita só é possível graças ao conhecimento rigoroso do movimento de rotação da terra, etc.

Por outro lado, vários fenómenos naturais podem ser previstos com alguma antecedência, o que permite mitigar os seus efeitos adversos. Cita-se como exemplo, os terramotos de magnitude elevada (muito embora nos dias de hoje ainda seja um desafio prever o momento exacto da ocorrência); as erupções vulcânicas, etc.

Outro exemplo, um levantamento gravimétrico antes da construção de grandes edifícios e outras infra-estruturas de grande porte, é fundamental para se conhecer a natureza dos solos e por conseguinte projectar convenientemente as fundações, o que é também importante para a segurança das pessoas.